CLÁSSICOS DO BLUES LIFE GOES ON ( E.H. Morris / Paul Williams)

Outro belo tema narrando os sentimentos mais profundos manifestos nas relações afetivas.
Embora composta por E.Morris & Paul Williams a canção é sem sombra de dúvida mais lembrada pela visceral interpretação de BIG MAMA THORNTON em sua excursão pela Europa acompanhada pela MUDDY WATERS BAND em meados dos anos sessenta,precisamente 1966.


Curiosamente,LIFE GOES ON(A vida continua) é uma das poucas músicas que aparecem no álbum BIG MAMA THORNTON IN EUROPE que não foi composta por ela.
A canção relata os sentimentos da interprete resultantes de uma ruptura emocional, onde uma vez mais a "Chuva" é colocada como figura de linguagem (Metáfora) representando os períodos mais amargos e dolorosos da vida.

"I know into each life that there's always a little rain
but I'll never - oh I'll never understand why my life has so much pain"
"Eu sei em cada pista que há sempre um pouco de chuva
mas eu nunca - oh eu nunca vou entender porque minha vida tem tanta dor"...

"I was happy right from the start now I'm so lonely since you broke my heart I played a losing game but life goes on just the same"

"Eu estava feliz desde o início agora eu estou tão solitária
desde que você partiu meu coração... eu joguei um jogo perdedor
mas a vida continua a mesma coisa"....

A presença forte do lirismo nas canções de blues.
Os sentimentos ganham ainda mais força com expressões fortes muitas vezes acompanhadas por figuras de linguagem como metáforas,comparações entre outros recursos de caráter poético e literário.
A presença de "CHUVA" aparece amiúde em canções com essa temática como representativa de "Pesar,Lágrimas, dor e solidão.

Esta bela poesia é finalmente concluída no mesmo tom de incompreenção que permeia a música toda:
"Maybe one day you'll tell me why you had to hurt me leave me here to cry"
"Talves um dia você me diga porque teve que me machucar e me deixar aqui a chorar".....

BALL AND CHAIN (BIG MAMA THORNTON)

O talento de BIG MAMA THORNTON é incontestável. Talento que não se limitava ao seu poderoso vocal. THORNTON era multitalentosa .Além de cantar , tocava bateria, gaita e ainda era uma excelente compositora. Entre suas muitas composições fulgura BALL AND CHAIN cuja regravação com JANIS JOPLIN serviu como vitrine para se trazer à tona a fantástica artista por trás da canção ,BIG MAMA THORNTON.
Um blues dentro do padrão clássico, com seus doze compassos característicos, uma letra muito boa, com figuras de linguagem representando os sentimentos do interlocutor, e uma grande "Voz" o adornando. Enfim uma música, cercada por todos os elementos que geram de fato um clássico.

O Amor em Ball and Chain curiosamente é expresso com uma conotação Negativa" .As figuras de linguagem usadas "BALL AND CHAIN"(bola e corrente)são usadas como metáforas representando o "AMOR "que com sua "Força" leva o interlocutor para "baixo" em função de seu desventurado romance.Assim como muitas vezes ocorre no Blues , o amor é mencionado como fonte de sofrimento e não como de realização como se demonstra nos versos abaixo:

"Love's got a hold on me, baby,Feels just like a ball and chain.
Now, love's just draggin' me down, baby, yeah"...
"O amor se mantém firme em mim,baby,sinto(-o)como uma bola e uma corrente ... me puxando para baixo"...
A razão de o Amor levar a interprete para baixo fica evidente na próxima estrofe:

"Why the man I love wanna leave me in so much pain"
"Porque o homem que eu amo quer me deixar entre muita dor"...

O sentimento de abandono vivido pela interlocutora é a razão do amor representado por uma bola e uma corrente (Ball and Chain) Levá-la para baixo. Assim,"Sittin' down by my window,"Sentada em sua janela" lookin' out at the rain."Observando a chuva lá fora"And it felt just like a ball and chain" "(O amor) representado por uma bola e uma corrente (numa conotação de força e sentimentos de pesar)
just dragging me down"Arrastavam-na para "Baixo" à melancolia"...

Ball in Chain embora regravada por outros artistas apenas alcançou êxito reconhecidamente nas vozes de JANIS JOPLIN e BIG MAMA THORNTON.
Com Joplin em versões mais rockeiras , e com Big Mama Thornton um fantástico e clássico Slow Blues.

MOTT WILLIS

(5 De Junho de 1896,Crystal Springs, Mississippi-1 de Outubro de 1982,Crystal Springs, Mississippi)
Dados históricos deste artista parecem se limitar as gravações musicais.Muito pouco se sabe acerca de sua trajetória , história familiar e etc.
Este guitarrista e cantor, adepto do Country Blues style aparece em muitos trabalhos voltados para o Blues do Mississippi e seus expoentes cultuadores do Country Blues.
Seguem alguns discos nos quais ele foi anexado:
Big Road Blues (Advent Records)
Way Back Yonder (Albatroz Records)
Giants Of Country Blues Guitar (1967 - 1981)(Wolf Records)
Bottleneck Blues (Testament Records)
Mott Willis & Others: Blues at home 13
recorded in Tennessee, Mississippi & Louisiana (1978-1982)(Mbirafon )
Willis faleceu em Outubro de 1982

CLÁSSICOS DO BLUES THE SKY IS CRYING (Elmore James)

É uma canção comovente que não apenas retrata a chuva com uma metáfora brilhante (“o céu está chorando, olhe as lágrimas rolando rua abaixo”), mas também a usa como retrato do sentimento do cantor.

Ele está observando a chuva, se perguntando onde a mulher que ama andará — e termina de forma pessimista alegando que “tenho um mau pressentimento, acho que ela não me ama mais”, mas sem concluir a história, deixando um final aberto e amargo.
Para muitos fãs do Blues e apreciadores do estilo ,essa música define a solidão que envolve o blues.

O cantor não está apenas perdendo (ou imaginando perder) apenas a mulher que ama, mas sim a única pessoa que o faz se sentir bem de alguma forma — isso fica claro na segunda estrofe, quando ele diz que viu a mulher na rua e se sentiu tão bem que seu coração pulou uma batida.

Ou seja, sabemos toda a história do relacionamento e o que irá acontecer com ele, enquanto observamos a chuva junto com Elmore James. É daquelas canções para se ouvir de joelhos.
Aqui mais um caso da temática,amor ,desilusão entre os clássicos do Blues.

Provavelmente, se Elmore James tivesse vivido mais, sua influência seria ainda maior. E o número de clássicos que ele gravou e compôs também. Em pouco mais de uma década, ele mudou o som do blues, sem jamais abandonar a alma do Mississipi. É uma pena que seu nome, hoje, esteja tão distante do público casual, já que ele é venerado como merecia somente pelos fãs do gênero.

CLÁSSICOS DO BLUES MEAN OLD WORLD (T.BONE WALKER)

Outra grande pérola produzida pelo fantástico T.Bone Walker.
Há versões desta canção em que T .Bone a inicia com um dedilhado posteriormente copiado por outros guitarristas.
Curiosamente, a versão de Society Woman com OTIS RUSH teve sua introdução com o mesmíssimo dedilhado de WALKER com MEAN OLD WORLD.

BUDDY GUY também homenageou a lenda da guitarra, usando o arpejo mencionado,na faixa DEDICATION TO THE LATE T.BONE WALKER presente em seu álbum:D.J.PLAY MY BLUES.
Vários artistas do Blues em diferentes momentos mostraram sua reverência ao grande T BONE WALKER.E isso naturalmente.Especialmente porque T.BONE WALKER deixou uma escola sobretudo aos guitarristas de Blues.Seus arpejos tornaram-se um padrão para os músicos, em especial ,os guitarristas do gênero. E é importante acrescentar que os doze compassos característicos do estilo, com seus turnarounds do décimo primeiro compasso ao décimo segundo se devem a contribuições da Lenda ROBERT JOHNSON e T .BONE WALKER.
MEAN OLD WORLD como outros clássicos do estilo, narra uma "Enorme DOR de cotovelo " daquelas de deixar o sujeito arriado sobre a mesa do bar. Os versos abaixo a descrevem assim:
"When you can't get the woman you love, you know she's loving someone else Well, I drink to keep from worrying and I smile to keep from crying "
"Quando você não pode obter a mulher que você ama, você sabe que ela ama outra pessoa ,Eu bebo para não me preocupar(demais com isso) , baby, e sorrio para não chorar"...
A angústia do interlocutor é tão grande diante da impossibilidade de viver ao lado de sua amada que ele vê a morte como solução para a sua desventura como descreve o trecho a seguir:
"Some day, some day, darling, I'll be six feet in my grave
And, I won't be around here to be mistreated, darling, like a low-down slave" " Algum dia ,algum dia, querida, estarei seis palmos abaixo da terra, e não estarei mais aqui para ser maltratado assim como um escravo..."

O quadro fornecido pela música é claro : O Mundo não é nada agradável para quem não pode ter ao seu lado a mulher amada.
É verdade que o tom pessimista e trágico da canção é um tanto "Exagerado" por parte do interlocutor. Mas não raro é assim que os apaixonados muitas vezes veem o mundo: Um lugar inóspito para quem não pode realizar seus sonhos . E o exagero ostentado nas desventuras de amor amiúde faz parte da ampla temática encontrada no Blues.

CLÁSSICOS DO BLUES - TEXAS FLOOD (LARRY DAVIS)

Texas Flood foi composta pelo excelente porém desconhecido guitarrista LARRY DAVIS.
Foi regravada posteriormente por FENTON ROBINSON sendo anexada em seu primeiro disco pela gravadora Alligator Records(Somebody Loan Me A Dime) porém sem muito êxito.

A música alcançou grande projeção e reconhecimento na década de 1980 em função das performances do grande guitarrista STEVIE RAY VAUGHAN. As apresentações da canção com Stevie contavam com acrobacias de guitarra, sobretudo nos solos finais, quando o Texano com a guitarra nas costas , executava solos rápidos e dificílimos , deixando extasiadas mesmo as mais exigentes platéias.

A canção descreve um cenário desolado de inundação no Texas.
Ao mesmo tempo o interlocutor narra sua aflição diante da impossibilidade de se comunicar com sua garota pelo telefone com todas as linhas cortadas em função do alagamento.
O desespero resultante é evidente como se nota neste trecho:


"Well, dark clouds are rollin' in
Man I'm standin' out in the rain
Well, dark clouds are rollin' in
Man I'm standin' out in the rain
Yeah, flood water keep a rollin'
Man it's about to drive poor me insane"

"Bem, nuvens escuras estão se mexendo
Eu estou na chuva
Bem, nuvens escuras estão se mexendo
Eu, eu estou na chuva
Yeah, a água continua inundando
Está prestes a me levar a pobre insanidade"

Diante da impotência do quadro , ao interlocutor apenas cabe resignar-se e regressar para a sua casa , como a letra descreve a seguir:
"Well, I'm leavin' you baby
Lord and I'm goin' back home to stay
Well, I'm leavin' you baby
Lord and I'm goin' back home to stay"

"Bem, eu estou te deixando baby
Senhor e eu estou voltando para casa para ficar
Bem, eu estou te deixando baby
Senhor e eu estou voltando para casa para ficar"

Algumas canções de Blues descrevem tragédias naturais, que por sua vez resultavam em grandes dramas pessoais.
Muito provavelmente LARRY DAVIS, sentiu-se motivado a escrever a canção ao testemunhar desastres similares em locais onde pode ter residido, nas proximidades ou em localidades por onde passou.
Em suma, situações geradoras de dor e aflição como inundações, ganhavam entre os anos cinquenta,sessenta e setenta , grande potencialidade em se tornar um Blues standard .
Texas Flood , é um retrato claro dos sentimentos e da desolação sentidas pelas vítimas de desastres naturais.

SLEEPY JOHN ESTES

(25 de janeiro de 1899 -05 de junho de 1977)

Em 1915 o Pai de Estes um meeiro que tocava guitarra levou a família para Brownsville, Tennesse.Pouco tempo depois disso ,ESTES perdeu a visão direita devido a uma pedrada recebida de um amigo.Foi a partir dos 19 anos que começou a tocar de forma mais intensa.Acompanhado do gaitista HAMMIE NIXON e o tocador de bandolim YANK RACHELL.Eles atuariam juntos por mais de cinquenta anos.Estes desenvolveu a reputação do cantor que possuía a voz que" chorava " Tido e considerado por muitos como uma das vozes mais tristes e expressivas do blues.Nos anos sessenta excursionou pela Europa com os antigos companheiros NIXON e RACHELL com grande parte deste material gravado presente em discos da gravadora Delmark Records.Não menos importante também foi sua participação no festival NEWPORT FOLK de 1964 bem recebida uma vez que a música Folk vivia um grande reavivamento neste período.Historiadores sugerem que o apelido SLEEP pode ter sido empregado em função de uma desordem relacionada a um problema de pressão arterial ou Narcolepsia.Mas pode ter sido usado também em relação a atitude sonolenta que ESTES apresentava diante de situações cruéis e difíceis que em muitos momentos a vida lhe apresentava .ESTES morreu em 1977,
vítima de um avc ,enquanto se preparava para uma nova turnê.